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O Batente aí pra quem quer ver, ouvir, baixar e comprar

Foto: Vitor Schietti

Foto: Vitor Schietti

O disco recém-lançado está aí pra ser comprado, baixado, ouvido, livre, leve e solto. Ninguém sabe o duro que se dá! Imagine se desse dinheiro...

Diga pro amigo, bote no Facebook e no grupo do Whatsapp. rs 

Se não gostar, diga pro inimigo então, bicho ruim da pele lisa. :)

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Gosta-se menos das músicas mais lentas

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Gosta-se menos das músicas mais lentas

alguém explica? uma coisa curiosa que acontece, que noto desde o disco anterior: as músicas mais lentas são as menos escutadas. quando avalio a quantidade de plays recebidos nas plataformas de audição online, as mais tocadas são sempre as mais ligeiras. e não é só com músicas minhas, pelo que vejo. que será que acontece?

Dados da plataforma Jamendo.com

Dados da plataforma Jamendo.com

tá certo que no caso de "bailarina", ela é uma valsa em 5/4, atípica, mais desafiadora aos ouvidos. mas no disco passado as mais ligeiras também são todas as mais tocadas. 

alguém tem sugestão do porquê isso acontece?


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Ela levantou os braços e eu morri de amores...

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Ela levantou os braços e eu morri de amores...

Pense num cara feliz, engraçado e querido. Assim é Afonso Gadelha, compositor dos bons mesmo. O último disco dele, 'Minha bandeira', é bom demais. 

Uma vez dei a ele uma letra toda adoidada, e ele fez essa música que toda vez que a gente canta, a gente ri! Aqui ele canta sério como gato em canoa...


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José Chagas

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José Chagas

Pausa para descanso do maxilar: era muito conversador!

Pausa para descanso do maxilar: era muito conversador!

Em um momento do show de lançamento do Batente, eu li um poema escandalosamente bonito do José Chagas. Sabia do risco de fazê-lo já que é um poema bem longo. Mas tinha certeza de que valia cada palavra. José Chagas é um poeta cuja força se prova quanto mais longas o poema é. Com ou sem rima! Quando nos conhecemos, ele me disse: "a rima só atrapalha os poetas trapalhões". Mesmo quando ele tem de encadear os pensamentos com rimas, ele não deixa de ser fluente e não sentido não é diminuído pela palavra da rima. É realmente impressionante! Pra mim, o maior.

Ele morreu no ano passado, aos 89 anos como pai e na idade em que previra. E como muita gente veio me perguntar sobre o poema e ele não está na internet, eu o reproduzo aqui. Grande Zé Chagas! E que arrependimento de não ter uma foto nossa de quando nos conhecemos!

 

DÍVIDA DE VIDA

Devo o mundo a meu pai
que me deu sem que eu pedisse
um horizonte cheio de manhãs,
um sol que se repetia sempre...
E me ensinava o caminho da roça
com o clarão que a vida exige
para alimento da carne e do sonho.

Devo a ele o azul que fiquei amando,
quando abri os olhos para muito além
do que ele nem imaginava.

 Devo-lhe a oportunidade de ser e de estar.
 Embora eu não tenha sido consultado para isso,
 nem indagado que nome queria ter,
nem se achava que aquele era
o melhor tempo de se vir ao mundo.

Devo a ele o bem de ser nordestino,
apoiado desde o início

na esperança inteira de que lá é sempre verde
ainda que tudo em torno sejam cinzas.

Devo-lhe a razão aberta
de ocupar um ponto no espaço
e crescer entre outros que
também não pediram o que eram
e agora não havia outro jeito,
senão o de acomodar no tempo
o destino de cada um.

Devo a ele a certeza
de que sem mim a rosa
que apanhei um dia no chão
ficaria para sempre no chão.
Porque os que iam comigo
não deram a importância que dei a ela.

Devo-lhe a dor e a alegria
de uma vida toda,
que se não teve sentido
foi por minha culpa

assim como lhe devo por antecipação
a morte, que é a certeza primeira de quem nasce
e de que ele não tem culpa nenhuma.

Devo-lhe tudo o que me deu
sem que soubesse que estava dando
Porque para isso me quis ele,
solto no espaço e no tempo.
Não feito à sua imagem e semelhança,

mas à semelhança e imagem
do que ele gostaria de ter sido.

Devo a ele
o gosto de chão que trago na boca. Paladar de frutos colhidos

com nossas próprias mãos
no verde criado por força
do nosso labor.

Devo ao meu pai
a alegria de saber
que ele levou escondido de mim
o meu primeiro soneto
para mostrar ao padre da freguesia,
que era escritor e poeta.

A opinião do vigário não me impressionou
(aliás, bem pouco favorável)
Mas o gesto de meu pai
me deu a certeza
de que um poeta na família
não faria mal
e eu seria bem recebido,
ainda que fosse um poeta pequeno,
porque também nossa família

não tinha desses luxos.

Devo a meu pai
a compreensão da humildade lírica,
de ser a aceitação das pequenas coisas
e a capacidade de medir
o compromisso lúdico pelo tamanho médio
das obrigações reais.

Com ele aprendi que poesia e trabalho
são uma coisa só
um esforço retomado em dobro
para soerguer o mundo
à altura de nossa humana paixão 

Ele me ensinou a poesia do trabalho
e deu-me o trabalho da poesia
para a vida inteira. 

Meu pai era um homem ao sol
um homem cuja sombra
fecundava a terra
e o suor do seu rosto
caía honesto como um sal de batismo
sobre as coisas a que ele
dava nome em seu mundo. 

Devo-lhe o jeito de andar no chão
de pisar os caminhos
com aquela certeza de que,
se afinal não se chega,
não foi em vão ter ousado ir
até onde nos pôde permitir o cansaço. 

Meu pai rezava as novenas de maio
e a vizinhança toda o via assim -
trabalhando a terra e o céu com a mesma fé,
associada aos seus ideais de devoto da vida

que sonha um alegre companheirismo
envolvendo anjos e homens.

Devo-lhe essa ingênua crença
e a boa-fé com que olho hoje
o mundo no pobre e o pobre no mundo,

armado só de seu esqueleto frágil
como se aí encontrasse
a armadura de sua inteira segurança.

Eu gostaria de dizer
que meu pai era igual
a todos os outros pais.
Mas ele era diferente,
senão como pai, talvez como homem,
que mil vezes se deixou enganar
e que nunca enganou ninguém.

Devo-lhe a ânsia de acreditar nos outros
por achar que acreditar é preciso,
ainda que isso nos custe a vida... 

Meu pai me ensinou que há coisas
que a gente só tem quando acha

Mas há outras que a gente só acha
quando tem. 

E é preciso ter fé para poder achá-la
e achar aí a razão única de suportar o mundo. 

Lembro-me dele quando me olho no espelho
mas não sei se o reflexo ainda que luminoso
lhe faz honra à memória
e não sei se ao me ver
estou tendo vergonha de mim
ou dele.

Talvez eu não tenha sabido
tomar meu pai como espelho
e agora a imagem retorcida
que se ergue de mim
recria os seus assombros
move o seu fantasma familiar
repelindo contrária na vida
a ideia que me venha hoje
de um pai espelhado no filho. 

O espelho maior é a vida,
que reflete tudo, 
mesmo no escuro da morte
e a imagem de meu pai
se cumpriu nela
ao sol de um verão antigo, tão longo e de tanta luz
que o fez morrer cego, aos 89 espaços de tempo
com que mediu o seu mundo 

com que pesou a existência
e a tarefa que lhe foi dada
glorificando-lhe as mãos de calos
e sagrando-o homem forte
com o suor dos dias.

Meu pai tinha esperança de sobra
Tinha fé para além do que a fé
fosse necessária
Tinha tanto amor ao chão
que a sua enxada o tocava de manso,
raspando só o que fosse daninho
na terra molhada, pródiga de verde

e se dando ao sol
como noiva afeita ao trabalho silencioso do ventre.

E se o chão secava,
meu pai não o maldizia,
por saber o que se passava
no coração da terra,
impedido ali de refazer o homem

do barro da criação. 

Meu pai sabia as secas
como um homem que lesse
nos horizontes o comunicado
oculto do tempo,
feito por fios de silêncio em fogo
entre o céu e a terra. 

Devo a ele a maneira de olhar o céu
com a humildade azul
que devemos ao infinito. 

Mas devo também a ele
o orgulho iluminado do nordestino
que tendo de retirar-se
ou deixar-se a si mesmo
caminha sempre na direção da volta.

Meu pai
era um homem
ao sol.

 

Retirado do livro José Chagas - Antologia Poética, editora TopBooks

A sobrinha do Zé Chagas tem livros à venda do poeta e pode ser contactada no Facebook.

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Deu no site musicabrasileira.org

Forró and Poetry from the People

A year or so after the release of Eu Venho Vagando no ArTúlio Borges began to work on his next project. That first album garnered the attention of critics all over Brazil as well as abroad. For example, Brazilian critic and musicologist Zuza Homen de Mello succinctly told his readers to “listen up carefully” to the work of this musician from Brasília. Then “we’ll talk about it.” And talk about is what everyone did! Another critic, Tárik de Souza, commended Túlio for his “meticulous work and perfect domain of texts and ideas.” That first CD gave Túlio Borges the recognition of Rádio Cultura de São Paulo’s 2010 Best Independent Singer, and the album also received a nomination for the Prêmio da Música Brasileira that year. MúsicaBrasileira.org also noted the precise articulation and melodiousness of crafty songs that Túlio presented us with that album.

Five years later, Túlio Borges comes back with a deeper look at the music of Northeast Brazil. Dedicated to the city of São José do Egito in the countryside of Pernambuco, Batente de Pau de Casarão is a worthy tribute to that city’s tradition of popular poetry. São José do Egito is known as the birthplace of Northeastern popular poetry and names such as Louro do Pajeú and Pinto do Monteiro. It is common belief that the city is full of popular poets. An old saying there says that if one is not a poet, he/she is crazy, and whoever is crazy in São José writes poetry.

This album began to take shape in 2012, when Túlio Borges traveled back to São José do Egito to take his father to revisit his homeland and old relatives. During a side trip to another town, Túlio’s cousin played a CD from a local artist known as Zeto. That did it for Túlio. The music moved him so much that he knew right there and then that he needed to prepare this album for release.

For Batente de Pau de Casarão,Túlio Borges worked with Jessier Quirino and Afonso Gadelha (both from the northeastern state of Paraíba) and Climério Ferreiro (from the northeastern state of Piauí). These artists wrote new music following the São José do Egito popular poetry tradition. The result is very pleasing and close to that São José tradition. Joining Túlio in this undertaking is a long roster of musicians with one sole purpose: show authentic regional music with quality performances. Produced byTúlio Borges, some of the musicians accompanying him include Rafael dos Anjos (acoustic guitar), Junior Ferreira (accordion), Pedro Vasconcellos (cavaquinho), Hamilton Pinheiro (bass), Valério Xavier (percussion and cavaquinho), Papete (percussion), Cacai Nunes (Brazilian viola), Victor Angeleas (mandolin), Davi Abreu (fife) and several others.

In the opening track of the album, “Nanquim,” the lyrics help define the meaning of this work.Túlio Borges sings about the cantador (literally a singer, but in the northeast of Brazil the meaning is that of a popular song improviser) and his purpose in life: to sing about life, pain, farm land, the heat and everything in the hinterland of Brazil. These song lyrics are popular poetry and very simple. Take “Tu,” for example. It sings about how good you are using what life provides around your daily routine. You are better than the shade of ingazeira, sweeter than mango on a mango tree and a precious gem like no other. The use of local color is one defining characteristic of popular poetry in the Brazilian northeast. All of this simplicity and charm is accentuated with Junior Ferreira’s lively accordion solos and the entire band support.

Batente de Pau de Casarão takes you back to a simpler life and richer personal experiences. Without the need of electronic instruments, this acoustic album shines through from beginning to end. You were advised to “listen up carefully” to Túlio Borges. This album makes it worthwhile you did it!

The entire CD is available at Túlio Borges’ website.

 

ALBUM INFORMATION

Túlio Borges
Batente de Pau de Casarão
Independent (2015)
Time: 43′:00″

Tracks:

  1. Nanquim (Túlio Borges – Jessier Quirino)
  2. Tu (Túlio Borges)
  3. Coco do Pé de Manga (Jessier Quirino)
  4. Sertão das Almas (Túlio Borges – Climério Ferreira)
  5. Olho Nu (Kleber Albuquerque)
  6. Canção do Piauí Unido (Túlio Borges – Climério Ferreira) / Citation: Te Cuida, Jacaré (Dominguinhos)
  7. Forrodá (Forró Que Rola) (Afonso Gadelha – Tony)
  8. São João (Anthony Brito – Túlio Borges)
  9. Adorável Trovador (Túlio Borges – Toty)
  10. Bailarina (Túlio Borges – Jessier Quirino)
  11. Baú de Guardados (Túlio Borges – Climério Ferreira)

by Egídio Leitão
http://musicabrasileira.org/tulio-borges-batente-de-pau-de-casarao/

 

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Ana e os Meninos

Ontem, fomos eu e muitas pessoas queridas ao show da Ana Reis, no Clube do Choro, em Brasília. Era comemoração aos 10 anos de carreira e uma prévia do DVD que ela gravará em maio. A Ana canta bonito, tem voz bonita e - mais raro - tem um trabalho interessante de pesquisa de repertório. No setlist, somente compositores brasilienses - e não faltava nada. Tinha Clodo, Climério, Clésio, Afonso Gadelha, Alexandre Carlo, Aloísio Brandão, entre músicas lindas da própria Ana e parceiros.

E tinha também, além de uma parceria minha com a Ana, essa daqui, com o Climério Ferreira. Sempre me emociono quando canto ou ouço; Cli disse que escreveu a letra quando, ao voltar para o Piauí, conhecidos o atualizam dos meninos que morrem nos rios. 

Nesse registro de cozinha, eu tinha acabado de escrevê-la e o Rafael dos Anjos passou aqui em casa. Que bom que veio. 

Meninos do Rio

Túlio / Cli

Cangapés, saltos mortais
A água engole os meninos
A margem cospe crianças
A vida não volta atrás

Voando, vindo do cais
Taludos e franzinos
Embora todos crianças
Pensam que são imortais

Querem dos peixes o espaço
Não imaginam os segredos
Que o rio guarda no abraço
Que vem do leito dos medos

Quem desconhece o futuro
Sempre alimenta a esperança
Nunca se sente inseguro
Dançando a velha dança

De um brincar belo e puro
De mergulhar feito lança
No fundo do rio escuro
E nunca morrer criança

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O coco do pé de manga no Casarão

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O coco do pé de manga no Casarão

Enquanto mês que vem não chega com o disco novo, espia o repertório...

1 - Nanquim  (Túlio Borges e Jessier Quirino)
2 - Tu (Túlio Borges)
3 - Côco do pé de manga (Jessier Quirino)
4 - Sertão das almas (Túlio Borges e Climério Ferreira)
5 - Olho nu (Kleber Albuquerque)
6 - Canção do Piauí unido (Túlio Borges e Climério Ferreira)
7 - Forrodá - Forró que Rola (Afonso Gadelha e Tony)
8 - São João (Anthony Brito e Túlio Borges)
9 - Adorável trovador (Túlio Borges e Toty)
10 - Bailarina (Túlio Borges e Jessier Quirino) 
11 - Baú de guardados (Túlio Borges e Climério Ferreira)

A faixa 3 é um coco do Jessier Quirino, que quando me cantarolou logo depois de fazê-la, vi que era boa demais! Vai ouvindo.

COCO DO PÉ DE MANGA

Jessier Quirino

As mangueiras estão de luto 
E as mangas de sentimento
Derrubaram um pé de manga 
Pra fazer um apartamento

Um pé de manga, um pé de cupuaçu
Um pé de jaca, um pé de coco
E um lindo pé de caju
Como é que pode tamanho descabimento
Derrubar um pé de manga
Pra fazer um apartamento

As mangueiras estão de luto
E as mangas de sentimento
Derrubaram um pé de manga
Pra fazer um apartamento

Um pé de manga, pé de jaca
Pé de pinha, de pitomba, graviola
Daquelas bem papudinha
Como é que pode um cabra sem atributo 
Derrubar um pé de jaca
Pra fazer um viaduto

As jacas de sentimento 
E as jaqueiras estão de luto
Derrubaram um pé de jaca
Pra fazer um viaduto

Um pé de jaca, um pezinho de romã
Jambeiro, tamarineiro
Banana prata e maçã
Como é que pode um cabra sem-vergonhento
Derrubar um pé de jambo
Pra fazer um apartamento

Os jambeiros estão de luto
E os jambos de sentimento
Derrubaram um pé de jambo
Pra fazer um apartamento

Um pé de jambo, um lindo pé de canela
Sapoti, coisa mais bela
E um lindo pé de araçá
Como é que pode um pé de lima carregado
Um abacateiro florado
Que eu não posso nem lembrar

 

 

 

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