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Domínio Público - Arr. Túlio Borges
[Cifra]
Eu venho de muito longe
Eu venho vagando no ar
Eu sou caboclo índio, meus filhos
Eu venho da costa do mar
Fui convidado pra brincar no barracão
Vou baixar no salão do Maranhão
Adeus, meu terreiro, adeus
Adeus, terreiro
Adeus, amor
Tava sentado na pedra fina
Quando o rei dos índios
Mandou me chamar
Sou eu, caboclo índio
Índio africano do Juremá
Eu bem que disse, mamãe
Que não queria vir cá
Não queria me encontrar
Com Dona Estrela na beira do mar
Eu bem que disse, papai
Que não queria vir cá
Não queria me encontrar
Com Dom João na beira do mar
Eu sou a dona da embarcação
Que navega no fundo do mar
Quem manda naquela serra, povo
Quem manda nela sou eu
Ai, ai, sou eu
Quem manda nela sou eu
trem
Túlio Borges
[Cifra]
Deveria ter dito na hora
Quanto você vale, quanto você pesa
Tua pouca idade, teu peito pequeno
Pra tanta vontade
Como numa cabecinha assim
Pode nascer tanto cabelo
Como num coraçãozinho
Pode ter tanto segredo
Eu desprezo teu desprezo
E te quero tanto toda pra mim
Isso que não é amor não é raiva
É como a fome de um doce
Que só mais doce seria
Se torrão de açúcar fosse
Isso animal e virulento
Como um trem que em movimento
Apitou quando te viu
Apito grave e fumarento
Essa aí da canção é um pecado
O fogão dos meus desejos fala
É tão linda que a lindeza estala
É fato que fui enfeitiçado
Pobre do coração enfartado
Se morre de amores, ela mata
Se é feio, castiga na chibata
Mas brasa apaga e canção fica
A rima do meu peito é mais rica
Que o perfume barato da mulata
zorro
Túlio Borges / Vytória Rudan
[Cifra]
Eu quero amar você e vou
Mas tenho que aprender quem sou
Achar dentro de mim o mapa
Parar com o choro, te entregar meu ouro
Se eu não me perdoar eu morro
Nem Krishna, nem Deus, nem Zorro
Socorrerá, sou eu que escolho
Se cuido de mim, se corro
Eu quero amar você e vou
Mas tenho que esquecer a dor
O medo de perder não faz sentido
Ficar assim triste comigo
Se eu não puder chegar cedinho
Espere mais um bocadinho
Eu trago anjos e cupidos
Há muito tempo fomos prometidos
Eu vou amar você, eu quero
Se for pra esperar, espero
Sereno como o tempo, lento
Meu acalento, nosso amor eterno
(Vento leva pra ela esse nosso acalento)
Eu quero amar você e vou
Mas tenho que esquecer a dor
O medo de perder não faz sentido
Ficar assim triste comigo
shirley
Túlio Borges
[Cifra]
Shirley Marciano de amarelo e calça jeans
Da Silva azul e tênis marrom
Da pele castanha, mel
Cor de pardo e Havana
Mulher me chama de amor
Doidivana bacana, que cor que tem a tua cama
Tardes de rum barato e músicas que eu nunca ouvi
A gente há de conduzir o mundo pra um outro espaço
Quiçá uma Bali, base sideral
Universo pleno e sensacional, muito legal
Cabelos pretos ondeados que eu quero agarrar
Boca, sorriso, língua e beijos lindos que eu quero beijar
São tantos filmes de comédia, amor e drama que nós vamos estrelar
Se o amor engana tanto e o tempo não pode esperar
Come on, Shirley, my love, eu sei que a gente pode se arrumar
Se ajudar, ler Hemingway, andar a pé e dar no mar
Beijar, trepar e praticar a cerimônia do chá
Assistir TV, tocar violão, ver o Comentário Geral
Cantar um bom samba-canção, comer linguicinha com pão
E quando o encanto não encantar, nós prometemos nos falar
Eu no Natal vou te ligar e tudo de bom lhe desejar
birosca
Túlio Borges
[Cifra]
Ah, meu deus
Não faça assim comigo, não
Ô, vento, não venta pra cá
O pano não vá levantar
Nem um pouco, não
Não pode essa princesa
Da sandália e dos pés lindos demais
Da blusa tomara que caia
Repare o tamanho da saia
E o estrago que ela faz
O carnaval tá todo aqui na birosca
Não está te olhando quem do samba não gosta
Põe o olho em mim e vem ver como é que fica
Pra trás os meus anos de zica
Eu vou com fé, muita sede e arnica
E mudamos o carnaval de endereço
Pra um outro lado da rua que eu conheço
Uma pá de samba lindo pra gente cantar
E vai ficar tudo tão com que só pra melhorar
Salário tem que aumentar
E o Fluminense jogar
O meu pai me abençoar
Ter samba até o sol raiar
altar
Túlio Borges
[Cifra]
No meu altar particular
Tem Martini, Pepsi e vela
E alguma conta por pagar
Tem flores, São Lázaros e fotos
De quem eu quero bem
E quem eu quero mal
Tem santos e rezas pra Oxalá
Tenho mil razões para chorar
Há coisas que nunca vão ser
Coisas que nunca eu e você
Tantos morros e um só redentor
Bom juiz, quanta imperfeição
Em oração de resultado
Eu não creio mais
toca aí
Túlio Borges
sua
Túlio Borges
[Cifra]
O que sei de você
Agora já não basta
Eu quero mais
Do que estar muito nua
Na sua
Quero ser sua casa
Quero que a rua saiba
Quero que você sinta
Que não só na noite escura sou sua
Quando o sol arrebenta a cortina
E o dia não lhe deixa ver
Que eu quero ser sua
Eterna companheira
A que sonhares
Deixa-me te conhecer
paraty
Túlio Borges / Vytória Rudan
[Cifra]
Foi amor à primeira vista
Um condor quem me deu a pista
Me mudei pra Paraty pra perto dela
E morei os meus olhos nela
Não é paixão, não é, rapaz
Não é o prazer que ela me traz
Tudo isso é muito bom
Mas ela tem algo mais
Algo mais que me traz paz
Coisa que nada no mundo faz
Trazer paz pra um coração
Que sofreu, se roeu, remoeu
Que já morreu do amor demais
Já deixou de existir
E sumiu, desistiu, se mudou
Se mandou pra não voltar
No fim do fosso ficou
Um condor que te viu me mostrou
E me trouxe para ti
Pro Brasil, pra cantar
Eu gosto dela
Porque ela é verde e amarela
Porque fora e dentro dela
Ela é ela
cicatriz
Túlio Borges
ói / morro de rir
Túlio Borges
[Cifra]
Ói o que eu fiz pra você
Não se ouvirá no rádio
E nem vai passar na TV
É um chorinho esse desejo
Que eu sinto por você
É a vontade do carinho
Que você saber fazer
Não vou contar de ti pra ninguém
Mas quando eu cantar essa paixãozinha pra você
Se você encostar em mim
Eu lhe darei meus beijos
E o amor tão bruto
De dores tão finas
E seguirei no mundo
Muito mais feliz
eu venho vagando no ar
Túlio Borges
nanquim
Túlio Borges / Jessier Quirino
[Cifra]
Vai, cantador, canta a dor
Do inchaço dessa vida
Da criança de colo e choro magro
Canta a cor dos legumes albergados
Nos leirões carcomidos desse chão
Vai, cantador, canta a cor
Escaldante do mormaço
Canta a cor do negrume do castigo
Essa cor é uma cor, dinheiro antigo
Que pagou a mil réis a escravidão
Vai então, cantador
Pro sertão cantar cantigas
Vai-te embora, cantador
Ser canto e voz amiga
Ser nanquim nos lençóis dessa nação
tu
Túlio Borges
[Cifra]
Se tu fosse umbu num te largava
Se fosse um mungango eu te juntava
Se fosse um pombinho eu criava
Se fosse de aço eu torava
Não fosse bem certa eu acertava
O que tu vendesse eu comprava
Se fosse biloca eu roubava
Se tu no Big Brother eu votava
No pasto da fazenda eu aboiava
Se um butiazinho eu plantava
Se tu buriti eu te cascava
Se tu melancia eu gostava
Se tu fosse nata eu adorava
Se tu Häagen-Dazs eu te amava
Mas tu é tu e tu é melhor
É melhor que a sombra da ingazeira
Mais perfume que manga na mangueira
Mais amor que amora na amoreira
Meu ouro incrustado do sertão
Minha prata gaúcha brasileira
coco do pé de manga
Jessier Quirino
[Cifra]
As mangueiras estão de luto
E as mangas de sentimento
Derrubaram um pé de manga
Pra fazer um apartamento
Um pé de manga, um pé de cupuaçu
Um pé de jaca, um pé de coco
E um lindo pé de caju
Como é que pode tamanho descabimento
Derrubar um pé de manga
Pra fazer um apartamento
As mangueiras estão de luto
E as mangas de sentimento
Derrubaram um pé de manga
Pra fazer um apartamento
Um pé de manga, pé de jaca
Pé de pinha, de pitomba, graviola
Daquelas bem papudinha
Como é que pode um cabra sem atributo
Derrubar um pé de jaca
Pra fazer um viaduto
As jacas de sentimento
E as jaqueiras estão de luto
Derrubaram um pé de jaca
Pra fazer um viaduto
Um pé de jaca, um pezinho de romã
Jambeiro, tamarineiro
Banana prata e maçã
Como é que pode um cabra sem-vergonhento
Derrubar um pé de jambo
Pra fazer um apartamento
Os jambeiros estão de luto
E os jambos de sentimento
Derrubaram um pé de jambo
Pra fazer um apartamento
Um pé de jambo, um lindo pé de canela
Sapoti, coisa mais bela
E um lindo pé de araçá
Como é que pode um pé de lima carregado
Um abacateiro florado
Que eu não posso nem lembrar
sertão das almas
Túlio Borges / Climério Ferreira
[Cifra]
Saudade tem de carrada
Lembrança tem de montão
Tristeza tem de manada
Nos pastos da solidão
A morte aqui é plantada
Tem muita alma penada
Habitando este sertão
Tem vezes que a fome é tanta
O mais valente não aguenta
Toda essa falta de janta
Sob um calor de quarenta
Seca a goela e a garganta
Dá uma fraqueza tão santa
Uma lerdeza jumenta
Quem vive neste sertão
Quando morrer vai pro céu
Aqui não tem um cristão
Vivendo de vinho e mel
Come é da falta do pão
Bebe é da sede do cão
Morre quem ganha um troféu
Mas cedo ou tarde esse povo
Suportador dessa agrura
Mesmo na falta de ovo
Na escassez da rapadura
Cedo ou tarde acusa o estorvo
E vota bem pra ter de novo
Felicidade e fartura
olho nu
Kleber Albuquerque
[Cifra]
É minha boca
Na boca do escapamento
É minha carne
Queimada por dentro
São os meus dentes
Na hora do soco
É minha fome
Na lata de mantimento
É minha casa
No olho do furacão
O meu caminho
A minha visão
É meu reflexo
No aço da bala
É minha falha
Na sua concepção
Agora é
Olho no olho no olho
Olho no olho vão
Olho no olho no olho
Olho no olho são
canção do piauí unido
Túlio Borges / Climério Ferreira
[Cifra]
Então você quer dividir meu estado
Cê quer partir meu coração
Cê quer que me sinta apartado
De parte dos meus irmãos
Quer dividir meu Estado
Quer fatiar meu orgulho
Contra esse fato inventado
Eu faço muito barulho
Eu quero mais unido esse meu chão
Do semiárido ao cerrado
Do Gurgueia à Amarração
Não quero ver céu remendado
Tudo é tão diverso aqui
Não tem a mesma paisagem
Babaçu, tucum, pequi
Vão margeando a viagem
Ê, povo
Ê, Piauí
Enquanto o senhor quer mutilado
Esse povo forte daqui
Com seu sotaque avexado
Quero unido o Piauí
Nas águas do Parnaíba
Que nos une ao Maranhão
Rio abaixo, rio arriba
Navega meu coração
Quero de nós muito mais
Do tudo que eu já vivi
Convoco os seus ancestrais
Pra salvar o Piauí
Da Costa e Silva, o poeta
Nascido no Amarante
Não deixe a terra dileta
Passar assim por amante
Como é que alguém quer partido
O desenho das nossas terras
Já sinto o peito ferido
Nessa mais doida das guerras
Piauienses de agora
E os que virão no futuro
Verão essa mesma aurora
Nesse chão unido e puro
Quero a casa de Quirino
Do lado de Neca Preto
E quero a de Severino
Junto à casa do prefeito
E se essa gente morrer
Como, de fato, morreu
Quero poder ver crescer
Tudo o que deles nasceu
E é um direito que eu tenho
E que eles terão também
Ter orgulho de onde venho
Sem dever nada a ninguém
E ao declarar pro juiz
A que estado pertence
Ter orgulho da raiz
De nascer piauiense
forrodá (forró que rola)
Afonso Gadelha / Tony
[Cifra]
O meu negócio é forrodá
Forró rodar
Forrar um canto pra cair
Deixa ficar
Forçar, fuçar, forrar, rolar
Deixa dormir
Estar contigo no fó
Do ró fó ri
Fumacear, virar tatu
Beirando o sul
Deixando o céu relampear
Só eu e tu
Traçar, trançar pau de bambu
Surucucu
E a cobra entrou no forrodá
É forrodá
Tem forró que rola
Sanfona chamando a gente
Moça com rapaz contente
Noite sem pressa e sem hora
O meu negócio agora
É fazer curva no vento
Tirando o que tava dentro
Botando o que tava fora
Saculeja o fole
Tem tempo pra mais um beijo
Quero matar meu desejo
Com a tua animação
O zabumbeiro zaba
Trava cachaça com queijo
Me lembro daqueles beijos
Na virada do salão
Tem forró que rola
Tem forró que rola
Sanfoneiro rela o bucho
Mas não deixa a gente embora
são joão
Anthony Brito / Túlio Borges
[Cifra]
São João, faz doze meses
Que eu não sou nada sem ela
Sou só a cópia da cópia
Do cara que eu era
São João, Santinha é o sonho
De uma vida inteira
Eu a metade mais fraca
E triste dessa brincadeira
Barbante sem bandeirinha
Vossa festa sem fogueira
Vós sois o frio da noite
Santinha é o fogo
E eu sou a poeira
São João, santa Santinha
Foi meu norte no negrume
Na escuridão da vida
Foi meu vagalume
E agora, São João
Que o resto da cinza esfriou
Que a vela do barco sem rumo
O sopro do destino emprenhou
Dai-me o sinal do farol
De qualquer outro porto
Que eu vou
Atrás de outra fogueira
Que aqueça outra festa de amor
Faço dupla com o luar
Pra cantar essa canção
Catavento na pinguela
Vai soprando a estação
Minha prece ilumina
O varal da solidão
Hoje a festa é sem festa
Não é, São João
adorável trovador
Túlio Borges / Toty
[Cifra]
Meu adorável trovador
A minha casa é sempre sua
Como a praça, a Vila e a rua
São motes pro cantador
Pois venha sempre que quiser
Pra um café, biscoito e prosa
Canções pra brindar a vida
Que pode ser saborosa
No mais, estamos sempre aqui
Eu, meu filho e companheira
Somente pra lhe ofertar
Amizade verdadeira
Quanto mais agradecido
Mais a vida vem e oferta
Coisa boa é ter amigo
Eu nunca vi coisa tão certa
bailarina
Túlio Borges / Jessier Quirino
baú de guardados
Túlio Borges / Climério Ferreira
[Cifra]
Tenho um baú de guardados
Atulhado de fatos desorganizados
No fundo profundo da memória
Cenas, caras, nomes, apelidos
Ruelas estreitas, largas avenidas
Medo, sustos e presságios
E túneis imensos
E pracinhas acanhadas
Tenho um baú de guardados
Nele trago esse mundo de retalhos
Acontecimentos em baralhos
Várias fitas com cantigas tristes
Fotos antigas da guerra distante
Atos de tortura na lembrança
E cercas irregulares
E casas nordestinas
Contracachimbo da paz
Túlio Borges / Jessier Quirino
[Cifra]
De morreres de amores tu fingiste
Meu juízo pacífico alopraste
Meu castelo de sonhos tu ruíste
Meu chuvisco sereno trovoaste
Meus colchetes do peito tu abriste
Os passeios venosos pressionaste
Se meus doze por oito tu subiste
Minhas fibras cardíacas infartaste
O sofrer de minh’alma tu poliste
Contra o próprio sangue guerreaste
Baionetas e adagas preferiste
O cachimbo da paz tu apagaste
Nossos trilhos dormentes dividiste
As camas sedosas encrespaste
Nossos vinhos e jantas consumiste
Teus caninos rangentes palitaste
Quietude e sossego sacudiste
Em motim que tu mesmo deflagraste
Uma estátua de ódio esculpiste
Na avenida que sem pudor barraste
Concreto, amor e canção
Túlio Borges / Ana Reis
[Cifra]
A chuva distorce o horizonte
nas janelas do destino
me impede de ver adiante
de prever o meu caminho
O vento balança a cortina
deixa cair a ilusão
invade, esfria, arruína
espalha incertezas no chão
Ah, se essa água trouxesse
gota a gota da paixão
formasse nosso alicerce
concreto, amor e canção
Se talvez o sol viesse
na nossa tarde um clarão
pusesse fim às tormentas
nos transbordasse o coração
Ela levantou os braços e eu morri de amores
Afonso Gadelha / Túlio Borges
[Cifra]
Ah, que vontade me deu
de dar um beijo bem dado
no teu sovaco raspado
desodorado e gostoso
de morder teu calcanhar
cansado de todo dia
de bulir em tua nuca
tão fofa quanto macia
Ah, que vontade me deu
de dar um beijo bem dado
no teu sovaco raspado
desodorado e gostoso
bagunçar o teu cabelo
arrumadinho e cheiroso
te chupar tudo no ouvido
lamber pensamento espinhoso
Ah, mas que vontade me deu
de dar um beijo bem dado
no teu sovaco raspado
desodorado e gostoso
dar um abraço arrochado
de peão em touro brabo
te ofertar uma flor caipira
e ficar ali parado
cheirando o ar que respira
Isso tudo é teu jeitinho
de como quem não quer nada
levantar bem o bracinho
pedindo pra ser beijada
Curvas
Zeto
[Cifra]
Eita! quanto tempo o teu cheiro
fica em minha boca
Parece que meu coração
encontrou onde morar
Eita! minha rua se enfeita
com tua chegada
E eu tento me dizer
que pra viver preciso de voltar
Esse rio que seca no meu coração
deságua na minha vontade
uma viola junto da mão
segredos da minha idade
Eita! quanto tempo uma canção
demora no meu peito
(Esse rio que passa)
Parece que a melodia
encontrou onde morar
(Esse rio que passa)
Eita! minha vida se varia
depois que eu canto
(Esse rio que passa)
E eu tento me dizer
que pra viver preciso de cantar
Esse rio que passa no meu coração
navega pra minha vontade
uma viola junto da mão
silêncio acorda na cidade
Grandes olhos
Aldo Justo / Alexandre Marino
[Cifra]
Menina que grandes olhos são esses
subindo as paredes
rebentam a muralha da China
vencem o tempo e as leis
é água e me mata de sede
Meu coração desanda
meu coração dispara
meu coração é mais leve do que o ar
e voa, voa, voa
vai além do arco-íris, viajar viajei
Me esqueci de cansar
Teus grandes olhos
centro do meu sistema solar
Faz tempo que eu não
te caço no escuro
Menina desce do muro
Cantiga
Clodo Ferreira / Clésio Ferreira
[Cifra]
Estou de volta na brisa da estrada
A boca da noite calada no ar
O vento bem leve de tão acanhado
Um frio danado cortando o luar
Juro que fico morrendo de medo
de não chegar cedo, de nunca chegar
nos braços de quem me espera
nos braços do meu amor
Ah, meu deus, se é felicidade
esse jeito de ter saudade
eu queria morrer de dor
Vem não
Túlio Borges / Climério Ferreira
[Cifra]
Vem não, não brigo com você
nem por precisão
estamos do mesmo lado
torcemos pro mesmo time
construímos lado a lado
esse nosso amor sublime
Vem não, não grito com você
nem lhe dou sermão
nós temos a mesma crença
a mesma religião
parecidos na aparência
tão iguais na emoção
Vem não que sei não
Vem não, não largo do seu pé
nem do coração
somos do mesmo país
crias do mesmo lugar
temos a mesma raiz
temos o mesmo falar
Vem não, ora eu lhe abraço
ora dou carão
eu sou assim de veneta
espero que não se meta
de fazer essa falseta
de trair nossa canção
Vem não que sei não
Enxerida no contexto
Túlio Borges / Jessier Quirino
[Cifra]
Oh, menina, me responda
ligeiro sem engoiar
se eu de fósforo aceso
tua pólvora encostar
se um olhar fácil de ler
meu olhar for te botar
será que tu se arrupina
me incrimina, recrimina
e larga o pau a gritar
Oh, home, cala essa boca
não tá vendo que eu tô rouca
que eu não posso nem falar
Oh, home, cala essa boca
eu não posso nem falar
Juro perante o divino
Que, na hora e nesse dia
Bem dizer uma oração
Eu debrulhei prá maria
Maria do andar azul
Maria ingrediente dengoso
Maria de saia acambraiada
Maria bordada
Maria aprendida sem pecado
Maria croqui da imaculada perfeição
Maria assassina da tristeza
Maria do colo quente
Maria cantina de suflê
Maria rosê
Maria isenta de partículas de feiúra
Maria doçura
Maria pressagiozinho calmoso
Maria que cutuca meu peito incutucável
Maria amorável
Maria água e sabão
Maria pano de chão
Maria belisca-flor
Maria mãe do frescor
Maria chuva dourada
Maria romanceada
Maria adubo do amor
Não faça eu dizer amor
Meu amor
Porque Sabino Morreu
Túlio Borges / João Batista de Siqueira
Sabino foi atacado
De um mau horrendo e tirano
E o pobre do Caetano
Nunca saiu de seu lado
Depois, vendo-o liquidado
Olhou, cheirou e lambeu
Foi quem mais sentido deu
Do reino dos animais
Brincava, não brinca mais
Porque Sabino morreu
Finalizou-se Sabino
Que me queria e amava
Sempre me acariciava
Quando eu lhe chamava Bino
Com a morte do menino
Caetano se comoveu
Num instante emagreceu
Só quer viver cochilando
Ou no terreiro miando
Porque Sabino morreu
Viviam pela calçada
Um saltava o outro corria
Caetano se escondia
Para brincar de emboscada
Hoje, coitado, sem nada
Lembra o irmão que perdeu
Parece que adoeceu
Ou que também não existe
Passa o dia todo triste
Porque Sabino morreu
Me assaltava no caminho
Saía em toda carreira
Voltava na brincadeira
Pra me encontrar com carinho
Coitado do meu bichinho
Tão pouco tempo viveu
Hoje no aposento meu
Figura um jazigo aberto
Triste, sombrio e deserto
Porque Sabino morreu
Resolvi-me a cavar
Pra ele a sepultura
Mas como o mundo censura
Não pude lhe sepultar
Veio um faminto do ar
Baixou, pousou e comeu
Não há mais vestígio seu
Nem mesmo por despedida
Devo sentir toda a vida
Porque Sabino morreu
O pão
Túlio Borges / José Chagas
O pão é pequeno
Para a nossa fome
E põe um veneno
Na boca que o come
Ninguém o consuma
Sem pagar primeiro
O preço da bruma
Que oculta o dinheiro
O dinheiro…
Fermento do homem
O pão escasseia
Aos que se consomem
Na seara alheia
Na boca vazia
Que arrota trabalho
O pão de cada dia
Cada dia é falho
É falho…
Fosse nosso pão
E a deus não se iria
Suplicá-lo em vão
N’alguma reza fria
E o povo que engula
A sua própria fé
Pecado é a gula
A fome não é
O pão é a obra
De um labor diário
Mas que nunca sobra
Para o operário
O que o chão encerra
Para quem tem fome
Se quem cava a terra
A terra é que come
Come o home…
Onde está o trigo
Em toda a sua carga
Quando me mastigo
Minha boca amarga
O pão é alheio
E alheio é o prato
Que vazio ou cheio
Não tem preço exato
Exato…