ontem li e botei música em versos do poeta gaúcho Sergio Carvalho Pereira que falam da morte de um cavalo. foi tendo em mente meu amigo Afonso Gadelha, que me ensinou a gostar mais desses bichos finos
Funeral da Coxilha
Túlio Borges / Sérgio Carvalho Pereira
repousa o corpo tranquilo
no funeral da coxilha
a terra bordada em flechilha
é o catre de quem retorna
a tarde encomprida a forma
das guanxumas e alecrins
não há tristezas nem fins
na morte que o campo adorna
não há tristeza no pio
da perdiz ciscando a vida
não há fins quando a partida
vai se tornando a chegada
quem foi de campo e de estrada
não quer melhor companhia
que o largo das sesmarias
no luxo da invernada
morreu num final de tarde
entre o pasto rebrotado
quando uma ponta de gado
buscava a paz de um capão
a noite avende um clarão
prendendo as velas miúdas
aos dois olhos da coruja
no castição de um moirão
o campo todo recebe
corpo e alma em funeral
se tornará cinza e sal
fundido com terra e água
e o choro da madrugada
que entre seus pelos se entranha
dá brilho à teia de aranha
que a macega deu pousada
por isso é que a minha gente
jamais enterra um cavalo
o campo sabe cuidá-lo
quando pra nós tudo encerra
a natureza não erra
ressuscita na coxilha
nas flores da maçanilha
graça e força sobre a terra