Em um dia de março, fui à Casa do Som, estúdio do bandolinista Dudu Maia em Brasília, para testar uns microfones de voz, pensando já na finalização do disco novo 'Cutuca meu peito incutucável'. Cheguei era de manhã ainda. Depois de uma conversa, um almoço, um cafezinho, Dudu sugeriu: "vamos abrir os microfones e ver o que acontece?".
Passamos uma tarde deliciosa, fluida, só experimentando e, no fim das contas, tínhamos um registro despretensioso daquele dia na forma da canção "Porque Sabino morreu".
São versos que musiquei do grande poeta João Batista de Siqueira, o Cancão do Pajeú. E é a história de dois gatinhos, Sabino e Caetano, e a tristeza de Caetano e do poeta quando Sabino morre.
Cancão escrevia demais sobre a natureza. Certa vez Geraldo Amâncio improvisou "todo gênio é ingênuo/ não sabe o valor que tem".
Espero que curtam!
Violão de nylon e guitarra - Túlio
Violão de aço, coquinho e pandeirola - Dudu
PORQUE SABINO MORREU
Túlio Borges / João Batista de Siqueira
Sabino foi atacado de um mau horrendo e tirano
E o pobre do Caetano nunca saiu de seu lado
Depois, vendo-o liquidado olhou, cheirou e lambeu
Foi quem mais sentido deu do mundo dos animais
Nem comeu nem brincou mais porque Sabino Morreu
Finalizou-se Sabino que me queria e amava
Sempre me acariciava quando eu lhe chamava Bino
Com a morte do menino Caetano se comoveu
Num instante emagreceu, só quer viver cochilando
Ou no terreno miando porque Sabino morreu
Viviam pela calçada, um saltava o outro corria
Caetano se escondia para brincar de emboscada
Hoje, coitado, sem nada, lembra o irmão que perdeu
Parece que adoeceu ou que também não existe
Passa o dia todinho triste porque Sabino morreu
Me assaltava no caminho, saía em toda carreira
Voltava na brincadeira pra me encontrar com carinho
Coitado do meu bichinho, tão pouco tempo viveu
Hoje no aposento meu figura um jazigo aberto
Triste, sombrio e deserto porque Sabino morreu
Resolvi-me a cavar pra ele a sepultura
Mas como o mundo censura, não pude lhe sepultar
Veio um faminto do ar, baixou, pousou e comeu
Não há mais vestígio seu, nem mesmo por despedida
Devo sentir toda a vida porque Sabino morreu