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O silêncio da noite é testemunha das minhas amarguras

Túlio Borges diz a glosa do poeta Zeto sobre o mote de Severina Branca "o silêncio da noite é quem tem sido testemunha das minhas amarguras". Estúdio A, da TV Senado. 
 

 

Sou da casa em que de madrugada
A criança acalenta-se ao cio
E faz sombra com a luz de um pavio
Que tem fogo amarelo igual espada
A mulher nua e fria está deitada
Ao seu lado um parceiro de aventuras
Que lhe mente a tentar fazer ternuras
Traz na bota dinheiro escondido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras

Geralmente depois das oito horas
Tomo banho me arrumo no meu quarto
Para o salão toda enfeitada toda parto
Pra aceitar uns convites, e outros foras.
A cachaça e o fumo são escoras
Dando ao corpo alegrias e torturas
E as doses que eu tomo são tão puras
Que o ambiente se torna colorido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras

O pecado pra mim é testemunha
Pois ladeia o meu peito o tempo inteiro
Do primeiro ao último parceiro
Dou um nome diferente, faço alcunha.
O vermelho é perene em minha unha
Meu trabalho é melhor sendo às escuras
Sou alguém que procura umas procuras
Que navegam no rio do gemido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras.

Mas às vezes pra cama eu vou sozinha
Procurei muitos homens não achei
E aquele que eu mais acreditei
Deu-me um “seixo” e eu paguei o quarto à Dinha
Eu já sei que é tardia a ladainha
Parecido com um pingo em pedras duras
Sou irmã, pois, do canto das loucuras
E o meu peito é acorde do alarido
Que o silêncio da noite é que tem sido
Testemunha das minhas amarguras

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contracachimbo da paz

Túlio Borges canta Contracahimbo da paz, música sua e Jessier Quirino, no programa Estúdio A, da TV Senado [2018] 

Contracachimbo da paz é terceira parceria que fiz com Jessier Quirino. Lembro que quando ele ouviu a música pela primeira vez ele soltou uma interjeição que é marcante dele: "marrapaz!" e completou "meu cumpade, essa é pra ser ouvida com a mão no peito, feito quem se levanta pra ouvir o Hino Nacional". 

A letra da música é bem poeticamente rígida, mas, apesar da vestimenta séria do arranjo, a música chega até a ser engraçada de tão exagerada. É feito um bêbinho chorando no bar: você sente empatia mas acha um pouco de graça.

A canção é como em vez de apaziguar os ânimos, a paixão tacasse gasolina no fogaréu e ardesse até acabar.

 

CONTRACACHIMBO DA PAZ

Túlio Borges/Jessier Quirino

De morreres de amores tu fingiste
Meu juízo pacífico alopraste
Meu castelo de sonhos tu ruíste
Meu chuvisco sereno trovoaste

Meus colchetes do peito tu abriste
Meus passeios venosos pressionaste
Se meus doze por oito tu subiste
Minhas fibras cardíacas enfartaste

O sofrer de minh'alma tu poliste
Contra teu próprio sangue guerreaste
Baionetas e adagas preferiste
Meu cachimbo da paz tu apagaste

Nossos trilhos dormentes dividiste
Nossas camas sedosas encrespaste
Nossos vinhos e jantas consumiste
Teus caninos rangentes palitaste

Quietude e sossego sacudiste
No motim que tu mesmo deflagraste
Uma estátua de ódio esculpiste
Na avenida que sem pudor barraste

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choro do antonio

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choro do antonio

Quando do lançamento do disco 'Batente de Pau de Casarão' no Rio, eu compus uma melodia inspirado em uma apresentação que assisti do regional do Fernando César num festival de choro que estava acontecendo... Naquela mesma viagem conheci o Renato Frazão, grande compositor de lá, que me recebeu tão lindamente - e convidou vários amigos músicos para que eu conhecesse -, que dei à melodia que tinha composto o nome de Choro do Antônio - nome do filho dele. E dei a melodia pra ele letrar. Taí como ficou, tal como foi ao ar no programa Estúdio A, do Assis Medeiros, na TV Senado semana passada. 

 

CHORO DO ANTONIO
(Túlio Borges / Renato Frazão)

Quando eu morrer
Quando eu me for
Pra lá, depois do fim
No interior de si
Guarda bem com você
Qualquer coisa de mim
Assim como eu guardei do meu avô
Que lhe faça feliz.
Pois tudo mais não tem valor
Perde o verniz
O viço, a cor

E quando o medo
O desamor
Qualquer coisa ruim
No interior, em si
Vier lhe abater
Não se esqueça de mim
Serei o vento a dar a direção
Do sol serei a luz
Pra além da dor e da razão
A que conduz
Ao coração                                                 
 
Deixarei meus versos de amador
Feitos com alguma inspiração
Muito suor
Tá bom, mas em compensação
Querer-lhe bem eu sei de cor
Fica pra você o que juntei
Notas e mais notas
De tão pouca precisão
E mais as linhas que tentei
Traçar nesse choro canção

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Amor Kalunga

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Amor Kalunga

Fiz uns versos na modalidade do repente chamada Nos dez de queixo caído pra uma história de amor que se passa na região de Cavalcante (GO), terra das comunidades quilombolas dos Kalunga. Dei pro amigo Roberto Correa musicar, vai sair coisa bonita!

 

AMOR KALUNGA
oh, santinha abençoada
nossa senhora das neves
tu que em linha torta escreves
e por nós é tão louvada
na tua festa sagrada
um dia fiz um pedido
de pronto foi atendido
meu deus, eu nem merecia
tão nova, nada sabia
nos dez de queixo caído

o amor me veio de repente
leve como um passarinho
que um dado dia cedinho
deu um pio diferente
mais afinado, estridente
bem dolente e doído
vei bater no meu ouvido
e eu fiquei encucada
mole, boba e apaixonada
nos dez de queixo caído

um rapaz do Riachão
me sequestrou do meu peito
buliu comigo de um jeito
que eu não pude dizer não
dei a ele minha mão
e um coração derretido
flechou tão certo o cupido
que tantos anos depois
somos felizes os dois
nos dez de queixo caído

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[PLAYLIST] As mariposa quando chega o frio

gostei da brincadeira. a playlist de hoje tá - sou suspeito - boa demais pro friozinho que bateu agora... tem Pedro Vasconcellos e outros agigantados

Pensada num dia de frio em Brasília. De manhã capinei, podei umas árvores na pracinha, tomei banho e vim escolher essas músicas pensando num relaxar bem relax. Quero só ver se te agradam!

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Indo a cavalo

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Indo a cavalo

recordando uma música que escrevi há uns meses. 'indo a cavalo' é um trotezinho lento que carece da voz da Ana Reis, parceira dessa música.

(a lembrança equina me deixa perguntando onde no mundo andará o baio Junim...)

 

INDO A CAVALO
túlio / ana reis

C                                 G
Me vi passando as folhas
C                                 Em
Vi rabisco, frases soltas
C                                   D(9)
Rimas de um verso morto
C                          Am              Em
Sem linha, sem som, sem porto

C                                      G
Fiquei lembrando sua mão
C                      Em
Os dedos no violão
C                                    D(9)
Música para os meus poros
C                                      Em
Se pensar demais, eu choro

C                                   G
Ainda me lembro daquele tempo
Em                   D
Eu escrevia poesia
C                                               G
Era tão minha a sua maior alegria

C                                              G
Ainda me lembro daquele tempo
Em                               D
Hoje suspiro mais leve
C                                                              G
Me despi da ilusão, visto um sorriso breve

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Esse agro que não é pop, nem tech, nem tudo

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Esse agro que não é pop, nem tech, nem tudo

Eu fico p. da vida quando vejo essa campanha #agroépop #agroétech #agroétudo da da rede globo... e fiz uns versinhos em desagravo:

 

Eu fico bem puto vendo a Rede Globo
Dizer que agro é pop, é tech, é tudo
Pra crer nisso aí tem que ser tabacudo
Ou muito humilde e feito de bobo
Indústria-riqueza é demais pra ser probo
É só contar um dos lados da história
Pois é mais barato nessa trajetória
Botar gente jovem num filme bacana
Que fala o que quer e no fundo tem engana
Tem força, tem grana, mas não essa glória

De quando em quando eu vou pra Goiás
E pela janela não tem novidade
O verde é um só e sem diversidade
Cerrado nativo você não vê mais
Não é só devastar, é veneno demais
Que em vários países já é proibido
E o Berço das Águas, bem como é sabido
Está sob o risco de grande extinção
Se f*de o bioma, se f*de a nação
Meu filho pequeno também tá f*dido

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Décimas do Cerrado

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Décimas do Cerrado

Para Roberto Corrêa:

Beleza primeira do nosso cerrado
É ver um olhinho de água brotando
Do fundo da terra a riqueza jorrando
Bem como um milagre não anunciado
Ali logo ao lado se vê fulorado
Um barbatimão, um ipê, um pequi
Um cega-machado e outros paus daqui
Que enfeitam de flor toda a redondeza
É bela e brava essa natureza
Que vive e resiste aos desmandos aqui

O céu de Brasília inda é soberano
Para o pica-pau, periquito, inhambú
Pro galo-do-campo e juriti-pupu
Que voam daqui até o céu goiano
Que cantam também em solo cuiabano
Se fartam de tanto comer cajuí
Mangaba, cagaita e bacupari
As frutas nativas do nosso cerrado
Eles que tão certos e eu que tô errado
Daqui no cerrado querer açaí

 

Foto: Bento Viana

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